terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Narciso

Por um segundo, eu me vi.
Me vi através da imagem refletida no espelho. E era diferente de todas as outras vezes que eu havia entado me refletir.
Meu olhos castanhos nunca haviam sido tão claros, e eu nunca havia reparado no quanto eu sou expressivo.
Nunca, em toda a minha vida, meu semblante apresentara tanta leveza.
Sorri feito bobo quando me percebi bonito. Talvez não como o "padrão", mas bonito suficiente pra conquistar algumas meninas, pelo menos algumas, a minha volta.
E agora, só agora, me analisando tão apaixonado quanto Narciso, eu entendi o interesse delas.
É difícil assumir que, sim, eu me vejo belo agora. As pessoas não veem com bons olhos os assumidamente bonitos.
Talvez eu comece dizendo que sei que tenho um certo charme, e quem sabe, meus amigos dirão que "pô, você é pintoso!". E aos poucos, irei me assumindo, sem o uso de palavras que podem ferir a superfície do ego alheio.
No final das contas, todos saberão o que eu reparei hoje, mas ninguém se pronunciará a respeito.
Será como um segredo...mesmo que todos já saibam.


Até



domingo, 25 de novembro de 2012

Primeiros erros...

Havia tempo ainda. Tempo esse que, apesar de passar e se perder, ainda estava sob seu comando.
Ela começava a pensar se tudo aquilo era certo, se realmente valia a pena. Se tudo o que estava deixando acontecer mudaria algo do passado, ou se algo de dentro de sua alma.
Tinha começado a deixar a vida agir, estava se soltando, se permitindo muito mais. por vezes, pensava que tudo era erro, mas percebia que necessitava desses erros. Precisava descobrir suas falhas de caráter, seus vícios, suas fraquezas. Não havia entrado em contato com tais coisas. Agora, no entanto, não sabia se queria ou não, mas estava de cara com elas.
Estava se divertindo, mas andava sempre na companhia da dúvida. "Será que vai dar certo?", "Será que eu vou me ferrar?", "Que que eu tô fazendo?". Chegava a ter atitudes que antes condenava, e isso ocorria conscientemente. Havia "ligado o foda-se". Não sabia no que iria dar, mas sabia que já estava no embalo e que não dava mais pra voltar atrás, nem ao menos um pouco. Não poderia tentar frear o que estava acontecendo. Já haviam várias pessoas envolvidas. Muitos sentimentos, ou melhor, sensações nessa bagunça toda.
Agora, acumulava histórias das quais não se orgulhava. Histórias que não virariam assunto nas rodinhas de amigos. Mas histórias que traziam para sua consciência a sensação de que podia muito mais, de que era muito maior e melhor do que sempre acreditara.
Sua vida, atualmente, era um misto de tantos acontecimentos, sentimentos, sensações e pessoas, que até perdia a conta e já não tinha mais conhecimento ou controle de nada.
Deu a mão a um ponto de interrogação e seguiu...



Até...


sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Em Queda...

Pois é, acabou.
O chão abriu debaixo de seus pés e estava caindo desde então. Não sabia onde iria chegar, mas sabia que estou longe dela e isso a desesperava.
Sentia que só não caía em maior velocidade por causa das borboletas que ainda estavam em seu estômago e que, de lá, tentam alçar voo.
O que permitia o seu sorriso, era a certeza de que em momento algum havia errado. Foi idiota sim, e continuaria sendo, porque gostar de alguém a tirava um pouco do rumo.
Ainda estava fora do rumo. Estava caindo.
Mas tinha certeza de que um dia subiria desse precipício de novo e a encontraria.
Não estava caindo em vão.
Estava caindo pra voltar, e quando voltasse, era pra lutar.
Meio clichê, né?!
Sabia que não podia desistir.
Sabia que não podia desistir da única história que valia a pena realmente.
Não desistiria de faze-la feliz.
Não mesmo!
Até o universo conspira a favor delas! E elas sabiam disso!
A música, a insônia...
Então ficava assim:
Ela organizaria sua vida enquanto a outra cresceria, e um dia, se encontrariam. Um dia sorriria,  ao lado da mulher que amava e, melhor ainda, a faria sorrir.
Essa era a vida que queria. Desde aquele primeiro olhar.
É por essa vida que chorava nesse momento de queda.
Mesmo que precipitada, ela não pararia de lutar pela vida que sonhava, ao lado da pessoa que sonhava.
Não pararia de lutar pela pessoa que mais quis na minha vida.
Pela pessoa que mais perto chegou do que acreditava ser o amor...

Até...



segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Aquela velha roupa

 

Enquanto me olhava no espelho, percebi o quanto o tempo havia passado e o quando eu havia mudado. Estava vestindo de novo a minha velha roupa de sentir. Essa que, por sua vez, já não era mais a mesma. E junto a ela, eu vesti coisas, acessórios, que você me trouxe de presente.
Eu me vesti dos nossos planos. Me vesti e coloquei a foto dos nossos filhos no bolso. E calcei os seus sapatos pra trilhar meus caminhos da maneira com que você trilharia.
Eu me cobri de sonhos. Dos meus e dos teus, e acreditei neles. Aprendi a tentar usar os seus olhos pra ver o mundo, e até comecei a entender e achar graça da sua rebeldia.
E eu vesti desejo, porque sem isso, nada faria o menor sentido.
Minha velha roupa, rasgada, gasta e desbotada, eu refiz. Costurei com um fio que não quebra. Não preciso falar do que é feito esse fio, porque todas as canções que a gente citava e cantava uma pra outra, referiam-se a isso. Agora ela está nova e me cai perfeitamente. Nem parece que estava há tanto tempo jogada no fundo do meu guarda-roupa.
E agora eu estou aqui, vestida, segurando nossos planos numa mão, e com a outra, dentro do bolso, seguro a foto dos nossos filhos.
Tô vestida à caráter, pro nosso casamento, pro qual pedi sua mão tantas vezes.
Tô vestida sim, e espero. Espero o momento em que você decida se vestir com roupa semelhante.



[texto inspirado pela canção "Eu te amo" do Chico Buarque]

Até.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O que ninguém entende...

Ele tava sofrendo. Não era dessas coisas, mas agora sentia uma angustia tomando conta de todo seu corpo e pensamentos.
Ela o havia "trocado", mas na verdade, ele não sabia se esse era o termo correto.
Haviam vivido uma curta, mas intensa história de amor. À distância, mas ainda assim, uma história de amor.
Ele tinha certeza do que sentia e sabia que era aquele o caminho certo a seguir, mas e ela?!
O que ela havia sentido?!
E os motivos pelos quais ela havia optado por outra pessoa?! Quais eram realmente?!
As vezes, ele acreditava que ela falava com ele, por pequenas frases soltas numa rede social. E quem poderia dizer se ele estava certo ou não?
Mas ela poderia estar falando com a outra pessoa.
Poderia ter começado a esquecê-lo.
E era esse o maior medo dele: que ela o esquecesse.
Esquecesse as noites em que foram dormir tarde por conversarem como se tivessem todos os assuntos do mundo pra serem resolvidos. Quando brincavam com planos e sonhos. Quando falavam sério. Quando se afirmavam um para o outro e diziam que acreditavam naquela história.
Ele acreditou antes e ainda acredita.
Seus amigos olham pra ele como se ele fosse a pessoa mais inocente do mundo, e ele sabe que pode ser realmente, mas sabe também que ela o entende. Ou, ao menos, deveria entender.
Inseguro, ele continua suas juras de amor, com medo de que ela se esqueça. Se sente mal por pensar que pode estar sufocando quem ama, mas é algo que ele não consegue mudar.
Ele a vê falando da outra pessoa e sente o desconforto da angustia tomando todo o seu corpo.
Não consegue mais comer direito, não consegue mais sorrir direito, ou respirar como antes, mas voltou a dormir. Talvez como uma válvula de escape.
Tem sonhado com ela todas as noites, mas não pode mais dizer isso pra ela. Então, guarda pra si, assim como os planos que, involuntariamente, ainda faz.
Seus poucos momentos de alegria são quando ela, que ainda se porta como amiga ou algo do tipo, fala com ele. Sente como se estivesse próximo dela de novo. Mas o sorriso acaba quando ele percebe que não está.
Ele a sente.
O tempo todo.
E apenas uma pergunta, uma frase de música, habita sua cabeça por todo esse tempo: Se isso não é amor, o que mais pode ser?!


Até...


segunda-feira, 29 de outubro de 2012

apenas uma carta...

Oi, tudo bem?
Eu sei que a gente não se conhece assim tão bem, apenas conversamos algumas (muitas) vezes, mas de alguma forma, eu te amo.
Pelo menos, eu acho que sim.
Talvez pelo fato de sentir mais do que eu já tenha sentido outras vezes.
Talvez nem seja amor, mas é o que eu já cheguei de mais próximo do que imagino que ele seja.
Só sei que queria estar do seu lado, independente da ocasião.
Queria estar aí do seu lado te fazendo carinho, inocentemente (eu juro!), porque eu sei que você não tá bem.
Queria poder dizer olhando nos seus olhos o que eu sinto por você. Se é que eu sei o que é que eu sinto por você realmente.
Queria poder cantar pra você e ver você rindo quando eu gaguejasse de nervoso por causa da minha timidez.
Queria que você entendesse que eu não tô brincando, e que tô indo contra muita coisa importante pra mim porque eu gosto de você e não consigo recuar.
E que você entendesse que eu nunca arrisquei assim. Nunca mesmo!
Nunca havia ido desse jeito contra minhas próprias promessas e meu medo de me magoar de novo.
Inclusive, esse medo cresceu depois que você me disse que tem medo de me magoar. Mas eu insisto!
Não quero e não vou te perder!
A gente ainda tem muita história pra viver, e acho que a gente tem muita felicidade pela frente.
Porque eu sei que posso te fazer feliz, e sei que você atualmente é o grande motivo da minha felicidade e que vai continuar sendo se quiser.
Porque eu sorrio que nem criança quando você fala comigo, porque a nossa música me desperta uma felicidade quase incompreensível...e porque eu penso em você a toda hora.
Eu sei que pra você não tá fácil. Sei que você ainda tá abalada por um término recente e que não é momento de entrar em outra história. Mas, por favor, entenda que eu não tenho controle sobre isso. Tá muito além do que eu posso controlar.
Mas eu também sei que tenho que esperar. Esperar você se livrar das mágoas e do que te prende ao passado.
Eu tô aqui, e aqui eu vou ficar. Te espero...porque eu sei que vai valer a pena.

Até...


[texto escrito dia 19/10/2012]

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Moça...


Há uns meses, talvez um ano, uma troca de olhares mexeu com ela.
Ao entrar naquela sala e se deparar com aqueles olhos, que a miravam também, ela abaixou a cabeça.
Não sabia ainda, mas não conseguiria parar de fazer isso a noite inteira.
O conselho que recebeu foi "Não! Nem pense em olhar pra ela!", mas já tava acontecendo, ela já havia olhado.
Disse que "Não, não vou olhar! Ela é muito bonita, mas não rola maldade!", mas no fundo já sabia que não tinha volta.
Guardou aquele olhar no bolso e passou os meses vivendo outras paixonites. Olhando, curtindo, beijando outras meninas.
Chegou a se "apaixonar" por alguém e a retomar um antigo caso (que não foi pra frente por falta de, sei lá, vontade...).
Nesses meses que se passaram, viu a dona daquele olhar algumas vezes e, em todas elas, sentiu o suor frio em suas mãos e o coração batendo em um ritmo diferente do normal.
Sentia que havia alguma coisa de diferente naquela menina.
Conversaram muito pouco nas vezes que se encontraram. Talvez pelo medo que ela sentia de puxar assunto, causar uma aproximação e perder o caminho de volta.
Mas agora, ela estava perdida, porque essa aproximação aconteceu.
Depois de muito tempo, elas começaram a conversar, diariamente.
Ela só acordavem bem quando recebia um "Bom dia" ou um "Oi" daquela moça, e só dormia bem após receber, pelo menos, um "Boa noite".
Começou a sentir ciúme, coisa que jamais sentira realmente de alguém, e se sentia mal por isso, pois não podia cobrar nada.
Não era um relacionamento "de verdade".
Talvez estivesse indo com "muita sede ao pote", mas todo o seu auto-controle havia sido gasto com aquela mesma moça nos meses anteriores.
Em uma certa noite, se apavorou.
Havia se prometido que não ia se meter em uma situação dessa novamente e, pior ainda, havia prometido a alguém, que não ia se meter com aquela moça.
Começou a sentir um peso enorme nas suas costas.
Não fazia a mínima ideia de onde vinha aquilo.
Se revoltou com a sua entrega, seu ciúme e todo o romantismo em geral.
Se revoltou por querer aquela moça.
Mas ainda assim, só dormiu depois de um "Boa noite" e, no dia seguinte, só sorriu depois de um "Bom dia".

Até...

terça-feira, 3 de julho de 2012

Em Crise...

Estou em crise.
Uma crise anunciada. Emocional e física.
Me faltam palavras e a minha capacidade de compreensão.
Estou funcionando com um terço da minha capacidade.
Estou em estado de sítio.
Minha cabeça meu corpo não se entendem e vão em sentidos opostos.
Acho que depois de tanto tempo, posso admitir, pela primeira vez, que não tenho total controle sobre mim.
Não me obedeço ou reconheço.
Nada mais em mim funciona em conjunto.
As partes de quem eu sou teimam que são independência, gritam isso em alto e bom som, e quem paga por isso sou eu, uma grande célula falida de personalidades conflitantes.
Estou, mais uma vez, em crise de identidade.
Não faço ideia de quem eu sou.
Parte dos meus conceitos estão caindo por terra.
Já não sei nem sei mais se a minha tão preciosa honestidade é tão certa e válida.
As vezes, esconder o que magoa as pessoas pode ser mais sensato.
Por falar em honestidade, já não sei mais se sou tão verdadeira comigo mesma.
Já me peguei mentindo em silêncio, como faria há alguns anos atrás, por outros motivos.
Estou em crise. Estou perdida.
A imagem que eu vejo no espelho é a de outra pessoa.
Minha voz não parece mais tão minha.
Minha música está faltando, assim como o chão debaixo dos meus pés.

Até...

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Só por uma noite




A pequena faixa de luz que entrava pela fresta da cortina bateu em seu rosto e ele acordou. Estava cansado, afinal de contas, a noite havia sido bem movimentada.
Ainda meio cego por causa do sol em seus olhos, tateou pelos lençóis e pode sentir a respiração dela ao seu lado. Sorriu. Estava satisfeito pela confirmação de que não sonhara, de que havia sido real.
Os cabelos dela estavam soltos e cobriam seu travesseiro e parte do seu rosto. Era o tipo de mulher que seus amigos tentariam disputar e com quem dificilmente conseguiriam alguma coisa. Por isso, talvez, ele ainda tinha dúvidas de como ela chegara até ali. Mas ao menos sabia e podia ter certeza de que ela estava ali. Seu corpo coberto apenas pelo lençol fino com o qual ele gostava de dormir, dava a ele a certeza da presença dela.
A noite havia sido ótima. E ele sabia disso. Talvez por culpa do álcool que o havia atiçado, ou pela capacidade que ela possuía de ter quem quisesse nas mãos. O poder que ela possuía de dominar a situação por completo.
Ficou ali, parado, analisando sua conquista. Cada curva do corpo dela que apareciam quase como uma pintura sob o tecido. Percebeu que aquela imagem quase clichê, digna de livros e filmes de romance baratos, lhe trazia um estranho contentamento.
Ele, que nunca foi um homem de muitas conquistas, estava boquiaberto com o que acontecera na noite anterior. Estava orgulhoso! Pela primeira vez em sua vida, tinha agido sem muito medo. Arriscou e conseguiu.
Algumas perguntas surgiram em sua cabeça. "E quando ela acordar?!", "Como vai reagir?!", "Será que ela vai se lembrar?!". Será que ela se lembraria do que havia sido dito na noite anterior?! Do que fora dito sem o uso de palavras?!
Ele se lembrava. De como chegaram ao quarto, de como tentou se livrar da bagunça antes de chamá-la pra entrar, de como a luz da Lua, e só ela, iluminou seus corpos durante a noite. Tudo estava nítido em sua memória. Claro como água.
Pensou se devia arrumar e diminuir o tanto de bagunça existente em seu quarto para que quando ela acordasse, não se deparasse com o ambiente que a escuridão e a loucura de algumas horas atrás a fizeram deixar passar.
Riu e se achou ridículo. O que importava aquele pé de sapato largado no canto perto da blusa caída na borda do tapete?! Ela não se importaria. Pelo menos ele imaginava que não.
E, ao olhar pra ela de novo, percebeu que não fazia a menor ideia de como ela se portaria. Do que ela falaria e como era seu olhar ao acordar.
Nesse momento, quase que instantaneamente, ela começou a se mexer e seus olhos se forçaram a abrir. Se abriram por fim e analisaram tudo a sua volta, até pousar no rapaz de aparência engraçada que ali se encontrava e que a olhava intensamente.
Ela olhou e se lembrou. Sorriu para ele e logo começou a se movimentar para sair da cama.
Disse um "oi" com a voz ainda rouca de quem foi dormir depois de muito se cansar. Ele respondeu tímido, com a voz baixa de quem não sabe o que dizer.
Já de pé, ela nem reparou na bagunça, e começou a se vestir, cobrindo a nudez que ele continuava olhando como se assim algo fizesse as roupas sumirem de novo.
Já vestida, prendeu os cabelos castanhos claros que, agora, refletiam a luz do sol que ainda entrava pela fresta da cortina, cada vez mais intensa.
Ele pergunta se ela já vai, se quer ao menos tomar café da manhã. Mas não faz todas as perguntas, porque, perguntar se ela queria conversar, ou se ela queria repetir alguma coisa da noite anterior, talvez em um lugar diferente, demonstraria todo o amadorismo que ele insistia em esconder. Não que ela não tivesse percebido que ele era uma menino, quase sem experiência, mas ele queria acreditar que havia passado despercebido.
Ela pega o telefone, e fala com alguém "oi, calma. Eu sei que tô atrasada, mas acabei de acordar. Chego aí rapidinho!" e ele percebe que ela desliga o telefone já pegando a bolsa.
Ele, ainda atordoado, a vê se aproximando, mas antes que ele consiga falar qualquer coisa, ela lhe diz ao pé do ouvido "vou gostar se a gente se esbarrar por aí de novo...", seguido de um beijo no rosto.
Ainda estático, vê a mulher, que ocupara sua noite por inteiro, abrindo a porta e saindo.
Sente um certa tristeza, mas logo volta a sua rotina. Ainda tinha muito com o que se preocupar pelas horas e dias que estavam por vir...

Até...

Daniel

Podia sorrir agora. Parecia ter a coragem que sempre lhe faltara. A coragem de sair, se mostrar e dizer para todos que não iria mudar.
Havia passado anos escondido por causa do medo da opinião dos outros. Medo do que os outros pensariam.
Eu conheci o Daniel quando éramos muito novos. Apenas eu o conhecia realmente, mas nunca convivemos muito bem.
Queria mandar em mim! Me dizendo o que era certo ou errado, e eu, sem entender, o isolei.
Passei anos mantendo o mínimo de contato possível. Não nos falávamos e eu ficava emburrada quando ouvia sobre ele.
Sei que ele tentou me procurar algumas vezes, mas eu estava irredutível.
Talvez por causa da adolescência, e por não fazer ideia de o quanto ele era necessário, eu não permitia que ele voltasse à minha vida.
O que eu não percebi foi a infelicidade se aproximando e a e a dor da ausência fazendo a necessidade de ter meu velho amigo por perto se tornando cada vez mais forte.
Um certo dia, quando eu tinha, sei lá, quinze ou dezesseis anos, alguns outros amigos, sem querer, me fizeram perceber o que não havia mais razão pra mantê-lo longe.
Refleti.
Passei noites sem dormir direito e decidi que daquele jeito não podia continuar.
Corri atrás do tempo perdido. Corri atrás do meu antigo companheiro. Do único que sepre me entendeu completamente.
Ele não estava lá.
Seja lá onde esse "lá" for, eu não o encontrei.
Alguns meses se passaram, e eu nessa busca frenética, mas já estava quase desistindo, quando ele voltou.
Sem avisar. Mas sentiu que eu o procurava.
Agora somos dois, de novo. Uma dupla e tanto!
Ligados por todos os laços possíveis e invisíveis aos olhos alheios. Eu só posso ser feliz quando ele sorri e vice-versa.
De vez em quando a gente briga, se xinga, eu digo que não vou mais escutar o que ele fala, mais ainda assim ele continua falando.
Sabe que eu não posso fugir, e tira proveito disso.
Porque, apesar de sermos diferentes, somos um só.


Até...


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Naquela tal noite




Eram nove e meia da noite e ela ainda estava no quarto se arrumando. Perguntei sarcasticamente pela segunda vez se ela ainda estava viva e ela respondeu "Caaaalma amor! Você tá muito estressada! Só tô terminando de me maquiar...". Vinte minutos depois e apareceu na sala, linda, com seu vestido florido mais simples (um que ela comprou quando fomos à uma feirinha lá por Laranjeiras), o cabelo meio preso, a bolsa que mais gostava de usar e com o rosto quase sem maquiagem. Eu só consiguia pensar "uma hora e meia pra tanta simplicidade?!" e brinquei com ela "pensei que estivesse se vestindo prum Oscar!". Ela fingiu uma cara emburrada, mas logo sorriu.

Seguimos nosso destino em direção à Lapa. Marcamos com uns amigos de beber em um barzinho e depois, quem sabe, sair para dançar (isso caso ninguém passasse mal de tanto beber). Encontramos mais dois casais de amigos e fomos nos divertir do jeito que havíamos feito milhares de vezes. Mas hoje ela estava diferente. Simples demais, linda demais. Carregava em si um brilho que eu há muito não via.

Bebemos durante bastante tempo e partimos pra alguma festa ou boate, qualquer lugar onde houvesse música boa pra se dançar. Ela não deu opinião enquanto a gente tentava decidir o nosso próximo destino, e ela apenas concordava com o que eu dizia, enquanto me olhava atenciosamente. Decidimos e seguimos rumo ao lugar decidido e ela segurou minha mão, como uma criança que não quer se perder da mãe. Olhei para seu rosto e vi um leve ar de sorriso. Continuei sem entender muito bem, não havia nada de diferente ou especial naquela noite. Era um programa que costumávamos fazer com nossos amigos desde os tempos de início de faculdade.

Chegamos e enquanto dançávamos, ela era a mais bonita. Não digo isso por ser minha namorada e que por consequência eu deveria achar a mais bonita, mas porque ela estava com uma beleza quase assustadora naquela noite. E apesar de tamanha beleza chamar a atenção alheia, não senti ciúmes. Ela olhava apenas pra mim. Dançava, sorria, me olhava, me beijava e voltava a dançar. E assim foi a noite inteira. Ela, encantando a todos e eu, encantada, sem conseguir olhar pra nada além dela.

No caminho para casa, encostou sua cabeça no meu ombro e mais uma vez sorriu. Parecia realmente uma criança. Segurava minha mão e fazia carinho nela com o dedo polegar. Simples, mas naquele momento, era o melhor carinho do mundo. Não trocamos uma palavra sequer no trajeto. Falei mais com o taxista do que com a minha própria namorada.

Chegamos em casa e ela foi se ajeitar pra dormir, e eu, beber um copo d'água. Logo me arrumei também e deitei, ao seu lado na cama. Foi então que a curiosidade, maior que eu, perguntou "O que havia com você essa noite? Você estava diferente...", e ela, abrindo um sorriso maior que os que havia aberto durante toda a noite, mas agora com uma ar de inocência e um toque de timidez, me disse "é que hoje enquanto me arrumava, eu percebi uma coisa. Coisa que eu já tinha percebido outras vezes, que já tinha me feito sorrir outras vezes, mas a cada ano, mês, dia ou hora ao seu lado se torna mais significativa.". Questionei o que seria e ela, com um olhar doce, me respondeu "É que...eu te amo..."

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

De joelhos


Enquanto aguardava uma resposta, várias possibilidade passavam pela sua cabeça. "Será que eu sou o cara certo?", "Será que eu não tô sendo um tanto precipitado?", "POR QUE TANTA DEMORA?".

Passados alguns minutos de um silêncio assustador, seu medo e insegurança começaram a apresentar voz em seus pensamentos, fazendo parecer que tudo aquilo era um grande erro. Não que ele se arrependesse do que acabara de fazer, mas o medo de quebrar a cara era enorme.
Começou, então, a passar um filme em sua cabeça. Uma espécie de revisão da sua vida a partir de um certo momento. Reviu o primeiro encontro, o primeiro charme trocado, as pequenas indiretas. O primeiro beijo, aquele do qual tem uma imensa saudade, mesmo sabendo que houveram muitos outros, muito melhores depois. A primeira noite juntos, a primeira discussão de leve, e a séria também. As primeiras pazes, e o prazer de fazer as pazes. Aquela crise de ciúme besta e exagerada, só porque ela descobriu que o nome e o número daquela menina na sua lista de telefone é de alguém com quem ele teve um romance há uns poucos anos atrás. As primeiras diferenças de gosto: ele gostava de um filme que ela achava violento demais, ela gostava de uma cantora da qual ele detestava o timbre da voz. Mas, na verdade, nada disso havia dado ,aos dois, motivos para achar que aqueles 4 anos e alguns meses tivessem sido um erro.

Quando percebeu isso, começou a permitir que o desespero se instalasse. Suas mãos suavam e só passava uma resposta para seus atuais questionamentos: "Ela não gosta de mim! Só está comigo por falta de opção melhor!".
Quando deu por si, já estava abaixando a cabeça e se preparando para ficar de pé de novo, pela possível decepção, e por sentir seus joelhos doerem.

Foi quando sentiu a mão gelada dela tocar e levantar seu queixo de novo. Olharam-se nos olhos e ela, abrindo um sorriso regado às lágrimas que rolavam por seu rosto, disse "SIM!". Uma simples palavra, seguida de um beijo cheio de amor e felicidade, e logo tudo estava em paz de novo. O alívio tomou conta de sua cabeça quando percebeu que todas aquelas dúvidas e a negatividade começavam a dissolver e desaparecer. E agora ele sabia, tinha certeza de que tudo o que os dois viveram até aquele exato momento, tinha, sim, valido a pena.

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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Um dia sem cor


Quando acordou, sentiu muito menos que o aman
hecer,
Sentiu que acordara no momento errado.
Sentiu a falta da brisa habitual da manhã em seu rosto.
...Se manteve sério o resto do dia.
Ria por fora, mas só para não ser questionado.
Fez resoluções que, instantaneamente, resolviam o desagrado atual de ser o que era.
Essas resoluções não funcionariam e nem sequer seriam postas em prática, mas aliviavam um pouco o que ele [não] sentia.
Chegou em casa, pintou as unhas de preto,
Vestiu a camisa de banda de rock da sua adolescência.
Ouviu as músicas que acabavam aos poucos com o resto de esperança que tinha.
Olhou no espelho e viu em seus olhos,
As janelas de sua alma,
Uma neblina sem cor, sem tom, negra.
Nem sequer entendia de onde vinha aquele peso sobre seus ombros.
Doía e ele tinha medo de se mexer.
Doía, mas ele tinha preguiça de se curar.
Não sabia que rumo tomar sem aquela sensação de vazio, que era a unica na qual ainda conseguia se agarrar.
No final do dia,
Cansado de sentir o não-sentir nada,
Dormiu.
Ainda com alguma pretensão de que o dia seguinte tivesse alguma cor...

Até...

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Para um alguém futuro...


Ah...como eu queria! Como eu queria conhecer teu rosto, saber seu gosto, suas mazelas e histórias.
Como eu queria sorrir com seu sorriso e sentir suas lágrimas, enxugá-las ou não.
Como eu queria sentir o seu coração e a alma nas suas palavras indo de encontro às minhas.
Receber um telefona, antes de dormir [ou ao acordar. Ou em qualquer hora do dia.] sem motivo importante. Sem um grande assunto, apenas você querendo ouvir minha voz.
Como eu queria ter um ombro pra repousar minha cabeça quando o ácido das minhas lágrimas machucassem meu rosto.
Queria te ajudar quando o fardo fosse muito grande, ou quando você se imaginasse sem saída. Queria te mostrar algum caminho, certo ou errado. Alguma direção.
Ah...como eu queria! Queria você! Que por sinal eu não conheço. Não sei o nome ou imagem. Queria você, pessoa sem rosto. Pessoa que ainda não me apresentou os desejos, os hábitos, os vícios.
Você, a quem a esperança me faz amar.
Amar o abstrato dos seus olhos...ainda inexpressivos no escuro da minha mente.
Amar você, que é ainda, uma sombra no meu futuro...




Até...