segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Aquela velha roupa

 

Enquanto me olhava no espelho, percebi o quanto o tempo havia passado e o quando eu havia mudado. Estava vestindo de novo a minha velha roupa de sentir. Essa que, por sua vez, já não era mais a mesma. E junto a ela, eu vesti coisas, acessórios, que você me trouxe de presente.
Eu me vesti dos nossos planos. Me vesti e coloquei a foto dos nossos filhos no bolso. E calcei os seus sapatos pra trilhar meus caminhos da maneira com que você trilharia.
Eu me cobri de sonhos. Dos meus e dos teus, e acreditei neles. Aprendi a tentar usar os seus olhos pra ver o mundo, e até comecei a entender e achar graça da sua rebeldia.
E eu vesti desejo, porque sem isso, nada faria o menor sentido.
Minha velha roupa, rasgada, gasta e desbotada, eu refiz. Costurei com um fio que não quebra. Não preciso falar do que é feito esse fio, porque todas as canções que a gente citava e cantava uma pra outra, referiam-se a isso. Agora ela está nova e me cai perfeitamente. Nem parece que estava há tanto tempo jogada no fundo do meu guarda-roupa.
E agora eu estou aqui, vestida, segurando nossos planos numa mão, e com a outra, dentro do bolso, seguro a foto dos nossos filhos.
Tô vestida à caráter, pro nosso casamento, pro qual pedi sua mão tantas vezes.
Tô vestida sim, e espero. Espero o momento em que você decida se vestir com roupa semelhante.



[texto inspirado pela canção "Eu te amo" do Chico Buarque]

Até.

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